segunda-feira, 7 de novembro de 2016

10 motivos para você questionar seu tratamento de saúde

10 MOTIVOS PARA VOCÊ QUESTIONAR

SEU TRATAMENTO DE SAÚDE


No dia 26/10/2016, saiu publicado na Exame.com que “erros em hospitais podem matar mais gente no Brasil do que câncer.” E continua: “Isso significa que a cada três minutos, dois brasileiros podem ter morrido em 2015 por problemas durante a internação, como erros na aplicação de medicamentos ou infecção hospitalar.”

Só este motivo já bastaria para o paciente e/ou seu familiar ficar atento e questionar os profissionais de saúde sobre os procedimentos.

Entregar-se a um estranho que teoricamente está preparado pra atendê-lo não o exime da sua corresponsabilidade em seu tratamento. E este começa exatamente no momento em que você adoece.

É preciso desmitificar os profissionais de saúde, tirá-los do pedestal em que se encontram e de onde o acesso é impossível. Faz-se urgente que o diálogo entre profissionais de saúde e pacientes se instaure para restaurar a saúde.

Sempre ouvir uma segunda opinião e se necessário mais outras tantas. Só, então, o paciente deve fazer sua escolha por quem deverá atendê-lo e qual tratamento seguir. Se for um atendimento de urgência fiscalize o que estão fazendo, questione e entenda tudo, se você não tiver condições de fazer isso, peça ao seu acompanhante que o faça. A sua vida é sua, portanto, seu maior guardião deve ser você mesmo.

Quebrar paradigmas é importante. Precisamos de profissionais que tenham uma visão mais ampla do ser humano, considerando-o como um todo e não como um pedaço do seu corpo.

Também devemos avaliar com cuidado aqueles profissionais que são apenas simpáticos e que respondem exatamente aquilo que os pacientes querem ouvir. Não estou dizendo que devam ser grosseiros, muito pelo contrário, ninguém quer ser maltratado. Estou dizendo que a isto se deve completar com competência, sem arrogância e sem prepotência. A um profissional competente se alia o estudo de cada caso que atende, além de manter-se atualizado e aperfeiçoando-se.

Busque um profissional que dialogue não só com seus pacientes, mas também com outros saberes dentro de uma infinidade de doenças que existem.

Para ilustrar um exemplo. Uma paciente estava se sentindo cansada e procurou um cardiologista. Fez a primeira consulta e ele pediu inúmeros exames. Ao ser perguntado sobre o que ela tinha, ele respondeu que precisava primeiro dos exames, para depois falar. Fez os exames. Todos normais. A paciente retornou ao médico que pediu mais exames, agora mais requintados. Todos normais. Não encontrando nada relativo ao coração que pudesse estar associado ao cansaço da paciente, o atribuiu a depressão e a medicou. Aí entrou uma terceira pessoa que sugeriu à paciente que consultasse um pneumologista, por ter histórico familiar de enfisema pulmonar e ser tabagista. Assim o fez. Na primeira consulta o médico fez sua avaliação clínica com bastante critério, ouvindo a paciente e investigando sua história. Pediu-lhe um exame e recomendou-lhe um tratamento para melhorar o cansaço. No retorno a paciente já se sentia bem melhor e a suspeita do médico de DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), se confirmou.

Se aquele primeiro médico, cardiologista, tivesse ouvido a paciente com atenção, tivesse feito uma boa anamnese, e visse a paciente além de um coração, provavelmente não teria lhe pedido tantos exames e a teria encaminhado ao pneumologista. Desta maneira ela não teria perdido tanto tempo sentindo-se mal e muito menos teria feito tantos exames desnecessários.

Também faltou à paciente um olhar mais desconfiado, mais crítico, no sentido de questionar o cardiologista sobre suas suspeitas clínicas, porque exames não são diagnósticos, são complementares de impressões diagnósticas. E essas impressões já surgem em uma anamnese bem feita. Ao que parece o cardiologista não tinha nenhum achado clínico e pediu tantos exames para a partir de algum deles enquadrar o cansaço da paciente.

Assim, se você quer se preservar de sofrimentos maiores, questione. Temos, no mínimo 10 motivos para questionar o tratamento que nos impõem:

1. A saúde está um caos.

2. Muitos profissionais de saúde vêm de péssima formação acadêmica e não estudam depois de formados.

3. Os valores estão mais voltados hoje para o “parecer” ser bom profissional do que de fato o “ser”.

4. O marketing nunca esteve tão em alta e vende produtos e serviços que deseja vender, não que sejam bons.

5. A desonestidade na feitura de procedimentos indicados que na realidade jamais são realizados, mas que são cobrados.

6. A reutilização de materiais descartáveis.

7. A falta de assepsia. Quem nunca viu um profissional da saúde atender ao celular com luvas? Abrir uma porta com luvas?

8. O esconder-se dos profissionais de saúde atrás da máxima “errar é humano”, quando seu parente vem a óbito ou por erro médico ou negligência ou imprudência.

9. A imposição do tratamento sem que haja diálogo com o paciente.

10. A sua vida importa a você mesmo: cuide dela.

Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar
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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

10 Motivos para Você Trabalhar em Equipe

10 MOTIVOS PARA VOCÊ TRABALHAR EM EQUIPE©


1. Os saberes são inacabados e incompletos.

2. Transcendência dos limites de cada saber.

3. A interdisciplinaridade implica vários saberes.

4. O paciente é biológico, social, psicológico e espiritual, de maneira única e indivisível, devendo ser tratado em todas estas esferas.

5. Necessidade das reuniões em equipe, onde se põem em questão as relações pessoais, profissionais, as condutas, as convicções etc., adaptando-se a uma melhor maneira de se tratar o paciente.

6. Elaboração da angústia gerada pela possibilidade da morte. Onde as pessoas têm o espaço para elaborarem a morte enquanto condição pertinente à vida.

7. Reconhecimento dos problemas graves gerados pelos procedimentos técnicos.

8. Eleição pelo paciente de um dos membros da equipe como objeto de transferência.

9. A morte vista como tabu na nossa cultura.

10. O significado e o re-significar da morte. Porque podemos assim descobrir outros significados da morte.

Veja o texto na íntegra, Paciente Terminal e Equipe Interdisciplinar, de onde foram tirados estes “10 motivos para você trabalhar em equipe”: http://alamysusana.blogspot.com.br/2016/11/paciente-terminal-e-equipe.html

Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar
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terça-feira, 1 de novembro de 2016

Paciente terminal e equipe interdisciplinar

Psicologia hospitalar - paciente terminal e equipe
interdisciplinar©




Para falarmos em paciente terminal e equipe interdisciplinar temos que ter em conta a importância da prevenção dos graves efeitos psicológicos, sociais e físicos da hospitalização e da patologia, incidentes tanto nos pacientes como em suas famílias.

Mas, iniciemos nossa exposição definindo o que é paciente terminal e o que é equipe interdisciplinar.

O paciente terminal é aquele paciente que está em fase terminal de uma doença, onde o esperado passa a ser óbito, independentemente da terapêutica utilizada, sendo esta neste momento mais paliativa e não tendo a expectativa de cura.

A equipe interdisciplinar é aquela equipe envolvida nos esforços para se tratar com dignidade o paciente, considerando-o nos seus aspectos biológicos, sociais, psicológicos e espirituais. "A interdisciplinaridade deve ir além da mera justaposição de disciplinas"(7). "O conceito de interdisciplinaridade fica mais claro quando se considera o fato trivial de que todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos, que pode ser de questionamento, de confirmação, de complementação, de negação, de ampliação, de iluminação de aspectos não distinguidos"(7). "Na equipe interdisciplinar há um encontro e cooperação entre duas ou mais disciplinas"(8).

Gostaria ainda de definir transdisciplinaridade, tomando emprestada a definição de Fernando Hernandez (3): "A transdisciplinaridade se caracteriza pela definição de um fenômeno de pesquisa que requer: a) a formulação explícita de uma terminologia compartilhada por várias disciplinas e b) uma metodologia compartilhada que transcende as tradições de campos de estudo que tenham sido concebidos de maneira fechada. A transdisciplinaridade representa uma concepção da pesquisa baseada num marco de compreensão novo e compartilhado por várias disciplinas, que vem acompanhado por uma interpretação recíproca das epistemologias disciplinaras. A cooperação, nesse caso, dirige-se para a resolução de problemas e se cria a transdisciplinaridade pela construção de um novo modelo de aproximação da realidade do fenômeno que é objeto de estudo."

Voltemos ao nosso tema e deixemos as definições a cargo somente do alinhavar dos atendimentos prestados ao paciente terminal.

Quando atendemos ao paciente terminal é de fundamental importância que toda a equipe esteja bastante familiarizada com os estágios pelos quais ele passa, lembrando que podem se intercalar e repetir durante todo o processo da doença, descritos por E. Kübler Ross, em seu livro Sobre a Morte e o Morrer (4) e que permitem uma visão real da complexidade vivida pelo paciente diante da sua terminalidade e do morrer. São eles: a negação e o isolamento, a raiva (revolta), a barganha, a depressão e a aceitação, complementando-se com a esperança, que persiste em todos estes estágios e que é o que conduz o paciente a suportar sua dor. "Quando um paciente não dá mais sinal de esperança. Geralmente é prenúncio de morte iminente."

A negação é mais frequente no início da doença. É quando o paciente nega a sua doença e a gravidade do seu estado. Recusa-se a falar da doença e tende ao isolamento. "A negação funciona como um para-choque depois de notícias inesperadas e chocantes, deixando que o paciente se recupere com o tempo, mobilizando outras medidas menos radicais".

No estágio da raiva, da revolta, o paciente se pergunta: "Por que eu?", "Por que comigo?" "Durante este estágio faz exigências, reclama, critica o seu atendimento e solicita atenção contínua. Se for respeitado e compreendido. Logo cessarão suas exigências, pois será assistido sem necessidade de explosões temperamentais. Ressaltamos a importância de tolerarmos a raiva, racional ou não, do paciente. Temos que ouvi-lo a até, às vezes, suportar alguma raiva irracional, sabendo que o alívio proveniente do fato de tê-la externado contribuirá para melhor aceitar as horas finais".
Na barganha o paciente tenta negociar geralmente com Deus. "Quase sempre almeja um prolongamento de vida ou deseja alguns dias sem dor ou sem males físicos". Faz promessas. Promessas que geralmente não cumpre.

A depressão aparece "quando o paciente não pode mais negar sua doença, quando é forçado a submeter-se a mais uma cirurgia ou hospitalização, quando começa a apresentar novos sintomas e tornar-se mais debilitado e mais magro, não pode mais esconder a doença. Seu alheamento ou estoicismo, sua revolta e raiva cederão lugar a um sentimento de grande perda".

E a aceitação é quando não mais sente depressão e nem raiva. É o momento em que encontra paz e aceita o que está acontecendo. Os momentos de silêncio são maiores e seus interesses diminuem. Neste momento é a família que mais precisa de ajuda.

De posse do conhecimento destes estágios, indubitavelmente, torna-se muito mais tranquilo, para o profissional que assiste ao paciente terminal, lidar com os sentimentos e emoções que afloram, ajudando-o na compreensão e na transitoriedade dos mesmos, bem como respeitar cada momento vivido pelo paciente, sem julgá-lo e sem lhe impor sua perspectiva.

Um dos membros da equipe que desconheça estes estágios poderá incorrer em erros que repercutirão em todo o processo do paciente, interferindo nos trabalhos dos outros profissionais.

Por exemplo, se a enfermeira não sabe que a raiva projetada nela, pelo paciente, é apenas a manifestação de um sentimento esperado e compreendido, e reage a ela com aspereza, poderá contribuir para que o paciente se sinta culpado pelo seu estado, levando-o a um quadro depressivo, prejudicial para os seus esforços de melhora. Assim, mais esforço será exigido, por exemplo, da fonoaudióloga, que deverá mostrar-lhe a importância da sua contribuição no tratamento; a psicóloga terá mais um elemento de terapia, que poderia ser evitado, deixando o espaço psicoterapêutico para outras questões mais emergenciais.

No entanto, "compartilhar experiências com profissionais de outras disciplinas exige esforço de admitir os próprios limites, superar a cota pessoal de egocentrismo e reconhecer a necessidade de superar os obstáculos insolúveis derivados da própria prática."(8)

A terminalidade equivale a estar próximo do óbito e como os profissionais de saúde vão lidar com isto? Vale a pena continuar atendendo a este paciente, quando poderia estar se dedicando a outro paciente com um prognóstico melhor? Como lidar com os sentimentos do paciente? Como ver o paciente morrendo sem "nada" poder fazer? Melhor não se envolver com o paciente e até abandoná-lo emocionalmente para não sofrer?

Neste momento é importante que se tenha consciência dos estágios pelos quais passa um paciente terminal, citados anteriormente, para ajudá-lo a superá-los e para se ajudar e não tomar para si o que pode ser bastante transferencial. Conhecer os problemas (biopsicossociais) implicados no processo do adoecer e morrer, para ajudá-lo a se sentir melhor e ter um resto de vida digna. Não desistir do tratamento do paciente. O paciente pode desistir, mas os profissionais de saúde não. Quando o paciente se sente abandonado à própria sorte, sem assistência, ele se entrega e desiste também, antecipando sua própria morte. "Para o paciente é reconfortante sentir que não foi esquecido quando nada mais pode ser feito por ele. É gratificante inclusive para o visitante, pois isto vem mostrar que a morte não é uma coisa horrível, medonha, que tantos querem evitar". (4)

Temos, então, inúmeras razões para se trabalhar em equipe:

1. Os saberes são inacabados e incompletos. (2)

2. A transcendência dos limites de cada saber.

3. A "interdependência das disciplinas, onde cada âmbito do saber implica os demais". (2)

4. O paciente é biológico, social, psicológico e espiritual, de maneira única e indivisível, devendo ser tratado em todas estas esferas. Porque a desorganização em uma delas provoca alteração em todas as outras.

5. Necessidade das reuniões em equipe, onde se põem em questão as relações pessoais, profissionais, as condutas, as convicções etc., adaptando-se a uma melhor maneira de se tratar o paciente.

6. Elaboração da angústia gerada pela possibilidade da morte. Onde as pessoas têm o espaço para elaborarem a morte enquanto condição pertinente à vida. Assim sentem que a relação com o paciente terminal deixa de ser ameaçadora e se faz possível que se acompanhe de fato e de perto a evolução total do mesmo, sem o sentimento de onipotência tão frequentemente ameaçado.

7. Reconhecimento dos problemas graves gerados pelos procedimentos técnicos. Por exemplo, a necessidade de extirpar um tumor de boca que deforme o paciente, deixando-o psicologicamente deprimido e fazendo que se afaste de tudo e de todos, rendendo-se à enfermidade. A cirurgia pode ser um sucesso tecnicamente, mas um desastre psicológico.

8. Eleição pelo paciente de um dos membros da equipe como objeto de transferência. (5)

9. A morte vista como tabu na nossa cultura. Porque a morte é ainda vista como algo terrível e temível e precisamos de ajuda para superarmos os "passamentos" dos nossos pacientes.

10. O significado e o re-significar da morte. Porque podemos assim descobrir outros significados da morte.

Citemos ainda Ana Garcia (6) que diz que a morte pode ser considerada: "1) a iniciação de um novo ciclo de vida para as doutrinas que admitem a imortalidade da alma; 2) como finalização de um ciclo de vida; 3) como possibilidade existencial".

Estar atento ao processo da doença e do adoecer em toda sua complexidade exige muito mais do que um aprendizado acadêmico, exige um dever ético e humano de todos aqueles que um dia cuidam daqueles que carecem da nossa assistência.

Referências:
1. ALAMY, Susana. A morte no contexto hospitalar. 1999.

2. BOCHATAY, Laura, BRONDINO, Alberto, FLICHTENTREI, Daniel. El abordaje transdisciplinario de la enfermedad cardiovascular. Tatuajes n. 4. wysiwyg://texto.89/http://www.psiconet.com/tatuajes/tatuajes4/cardio.htm.

3. HERNANDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação. Porto Alegre, ArtMed, 1998.

4. KÜBLER ROSS, Elizabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo, Martins Fontes, 1998.

5. LAMBERT, Anamaría da Costa. Um analista na equipe de saúde. Fort-Da Revista de Psicoanális com Niños. wysiwyg://der.39/http://www.psiconet.com/fort-da/fort-da4/analista.htm.

6. MAC DOUGALL, Ana García. El câncer y la psicooncologia. http://www.psicooncologia.org/articulosp/articulos_p_detalle.cfm?Art_ID=17

7. Parecer n. CEB15/98 da Lei de Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.

8. ROMANO, Esther. Contexto interdisciplinario ante uma denuncia de abuso sexual. Intersección de los discursos psicoanalíticos, jurídico y valorativo. Fort-Da Revista de Psicoanálisis com Niños. wysiwyg://der.39/http://www.psiconet.com/fort-da/fort-da4/contexto.htm.

Créditos da imagem: Susana Alamy

Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar
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Texto reproduzido de Alamy, Susana: Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma. BH, s.ed., 2003.

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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Amor faz parte do tratamento

AMOR FAZ PARTE DO TRATAMENTO



Nunca concordei em deixar meus bichos internados. Eles são apegados à gente, nos reconhecem e nos esperam com ansiedade quando nos ausentamos.

Em nossos momentos mais difíceis, lá estão eles, cheios de amor para nos dar. Fazem-nos companhia quando estamos tristes e quando estamos alegres. Acarinham-nos ainda mais quando estamos chateados.

São sensíveis a qualquer coisa e pressentem o futuro. Ficam tristes e alegres, têm sentimentos puros e são capazes de tudo para nos agradar e proteger.

Quando adoecem e precisam de procedimentos mais invasivos, as clínicas os internam, colocam-nos longe de nós e muitas vezes em acomodações impróprias. Já vi clínicas com gaiolinhas muito pequenas e em lugares escuros e pouco ventilados. Já vi clínicas com gaiolas maiores, mas sem sol, sem acomodação para seus donos ficarem com eles, mesmo em horários de visita. Já vi clínicas com espaço maiores, tipo um pequeno quarto com janela para ver do lado de fora, bancos de concreto para subir e descer. Já vi clínicas com acomodações de gaiolas empilhadas, como se fossem algum material estocado. Já vi clínicas com gaiolas no tempo, sem proteção e sujas.

Nunca concordei em deixar meus bichos internados. Amor faz parte do tratamento e não há quem cuide melhor dos meus bichos do que eu mesma. Eles são a minha família e os meus amores. Quem tem bicho sabe do que estou falando. E gostamos mais deles do que de qualquer coisa na vida. São nossos eternos bebês. Aliás, se forem gatos são bebês eternos, dengosos; se forem cachorrinhos são crianças pequenas, pulantes e felizes.

Aí chega aquele dia fatídico, onde ficaremos com o coração na mão, quando adoecem e precisam fazer alguma cirurgia. Entregá-los a profissionais que conhecemos e confiamos não os deixa mais confortáveis, pois para eles são estranhos e não há tempo nem para adaptação.

Recentemente minha gatinha precisou de uma cirurgia e para minha surpresa eu deveria permanecer no hospital veterinário todo o tempo. A sedação seria feita pelo anestesista com ela no meu colo e só então seria levada para ser anestesiada e operada. Eu deveria continuar ali, na sala confortável que dava acesso ao bloco cirúrgico, esperando que voltasse. Durante a cirurgia vieram me informar que tudo corria bem, que ainda não tinham terminado, mas que tudo estava bem. Depois vieram me perguntar se poderiam colocar uma sonda para alimentação e medicamentos. Com o que concordei. E ao terminar a cirurgia imediatamente a trouxeram para o meu colo. Ali deveria permanecer: abraçada e quentinha no meu colo até que acordasse da anestesia. E veterinários vinham todo o tempo para ver como ela estava. Uma equipe de veterinários atenciosos e preocupados com meu bichinho.

A cirurgia teve um tempo emocional de anos. Como é duro permanecer ali na expectativa de que dê tudo certo, sem intercorrências e sem más notícias.

Voltando da anestesia e terminando o soro poderíamos voltar para casa, para nossa casa, porto seguro, ambiente conhecido e aconchegante. Nada mais justo com aquele que carece de cuidados, de atenção e de amor. Não que estranhos para o animal não deem amor a ele, mas são estranhos para ele e não há correspondência de sentimentos entre eles. Jamais poderão substituir aqueles que convivem e se amam reciprocamente.

Cirurgias, medicamentos, alimentação adequada, assepsia, tudo faz parte do tratamento, mas, sem dúvida alguma, o mais importante de tudo é o amor. Sentir-se protegido, acolhido e amado em seu momento mais difícil o ajuda a recuperar-se, assim como acontece também com os humanos.

Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar
psicologiahospitalar.net.br

PS: Minha gatinha Fukinha operou com o Leonardo Maciel, do Animal Center Hospital Veterinário, em Belo Horizonte/MG.

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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Psicologia hospitalar: uma conquista



Há 29 anos eu me formava em psicologia, profissão que eu abraçaria com paixão para o resto da minha vida. No entanto, antes mesmo da minha formatura eu já estava inserida no trabalho, tendo iniciado pelo Pronto Socorro do Hospital João XXIII e logo na sequência na Santa Casa de Belo Horizonte.

As informações sobre psicologia hospitalar eram limitadas, estávamos, eu e alguns colegas, iniciando um trabalho novo e conquistando espaço junto aos médicos. Precisávamos de teoria que subsidiasse os atendimentos. Os livros eram escassos e os poucos materiais existentes eram quase inacessíveis. Busquei conhecimento em outros estados do Brasil, onde já havia serviços de psicologia hospitalar funcionando. E fui estudar em Buenos Aires. Fundamentar a prática era crucial para um bom atendimento.

Na Santa Casa éramos voluntários, só seríamos contratados anos depois, e recebíamos estagiários. Nesta época os alunos que nos chegavam não tinham a mínima ideia do que fazer dentro de um hospital e a prática acabava por se alinhar à teoria do atendimento clínico. Fazer clínica dentro do hospital não é o melhor caminho, pois a psicologia hospitalar tem suas peculiaridades e não se confunde com a clínica. Assim, comecei a escrever textos que pudessem ajudar aos meus estagiários, trazendo a eles a teoria que fundamentaria sua prática. O resultado destes escritos foi meu livro “Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma” (http://www.psicologiahospitalar.net.br/livro.html), sendo sua primeira edição de 2003.  Mas os textos também não eram suficientes e os alunos demandavam mais conhecimento. A supervisão de casos acabava por se confundir com aulas e a partir daí comecei a separar o que seria aula do que seria supervisão. O resultado também foi surpreendente, pois na intenção única de ajudar aos que estavam chegando, acabei por estruturar meu primeiro curso de psicologia hospitalar, até hoje procurado por aqueles que anseiam em aprender sobre o atendimento psicológico dentro do hospital. Outros cursos foram surgindo sempre através de demandas e hoje tenho a grata satisfação de contribuir com aqueles que buscam aperfeiçoamento em sua atuação. São cursos diversos e sempre voltados para um melhor atendimento, seja ele dentro de hospital, domiciliar ou em clínicas específicas. (http://psicologiahospitalar.net.br/)

Conquistar esse espaço trouxe não só uma satisfação pessoal como também um novo olhar para aqueles que adoeciam e precisavam se internar, ajudando-os a passar pelo sofrimento com mais qualidade de vida. Fundamentando a prática com a teoria conseguimos também contribuir nos atendimentos médicos, pois há uma escuta diferenciada para as queixas, já que em muitos casos o ganho secundário da doença impede ao paciente de alcançar uma melhora do seu quadro clínico e até mesmo a cura.

Diante desta exposição quero também chamar-lhe a atenção para as fontes de informação. Em uma época em que as informações surgem com a velocidade da luz, é importante sabermos diferenciar o que é realmente importante do que não é. Informações obtidas no google devem ser triadas e devemos ter um mínimo de informação anterior para julgar a relevância e veracidade da informação que pegamos na rede, onde qualquer um pode postar o que quiser. Os livros continuam sendo uma boa opção para estudar. O que vem a mais é complemento.

Assim como as informações obtidas na internet, cursos online sucateados e sem menção aos professores, devem ser vistos com cautela, pois o mais importante não são os certificados que conseguimos colecionar, mas sim o conhecimento que nos subsidia a prática, adquirido arduamente ao longo dos anos, ajudando-nos a ser respeitados e a conquistar espaços cada vez maiores dentro desse imenso universo que é a psicologia.

Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar
psicologiahospitalar.net.br

Crédito da imagem: Alamy, Susana: Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma. BH, s.ed., 2003.

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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

CTI: uma experiência ruim

CTI - UMA EXPERIÊNCIA RUIM ©


Um mal-estar súbito. Calafrios, fraqueza muscular, tremores difusos, sem controle. Deixa-se de ser dono de si mesmo neste instante, quando o corpo diverge do que se pode querer com a razão e o coração. Quando o corpo não obedece mais e se desvia do padrão de normalidade a que se está acostumado.

Vem a internação. Um hospital - da melhor qualidade, escolhido a dedo pelos familiares - onde se deve permanecer até que o médico dê a ordem da alta. Mas, é um lugar frio, impessoal, sem cores, sem quadros nas paredes, sem vida (sem vida para salvar vidas, não se compreende muito bem).

No apartamento ainda os familiares, os pertences pessoais, a vontade sendo satisfeita na medida do possível e dentro das ordens médicas, as visitas e os telefonemas. Ainda se ouve risos, vozes, conversas.

Instabilidade no quadro clínico, completa perda de poder sobre o corpo e sobre a vontade. Respostas não esperadas do corpo, do orgânico, da hemodinâmica. Toda a parafernália à disposição: tubos, oxigênio, soro, e até uma campainha para chamar a enfermagem.

Não é o bastante. Carece-se de uma atenção mais intensiva. Transferência para o Centro de Tratamento Intensivo - CTI. Passa-se a ter uma atenção mais dolorida neste momento. Dói estar só. Dói estar longe da família e dos amigos. Dói estar sem referência, sem nenhum pertence que poderia identificá-lo. Dói para o paciente e para sua família.

O paciente lá dentro, completamente protegido dos vírus, das bactérias, dos vermes, das contaminações diversas. Protegido, também, do carinho, do amor. Colocado em uma redoma fria e monótona, distante do mundo caloroso dos contatos humanos.

A família do lado de fora, a chorar (sem saber que o paciente lá dentro também chora e chora sozinho) imaginando a dor do doente e sentindo a sua própria dor.

São dores. Dores surdas, que ecoam na alma e se expressam nas lágrimas, nos batimentos cardíacos, na pulsação da tristeza. Que se fazem notar nos olhos caídos, no olhar baixo, na redução do tônus muscular.

Não. Não pode ser aquele lugar um lugar apropriado. Não pode ser aquele lugar um lugar que restaura a vontade de viver. Talvez seja apenas um lugar que sirva para aproximar a pessoa doente de Deus, porque só Ele pode permanecer ali, junto e de mãos dadas todo o tempo, a velar em silêncio o sono induzido de quem sofre.

Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar
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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

6 DICAS PARA USAR O CELULAR EDUCADAMENTE


Eu tenho saudades da época em que só existia telefone fixo. Saíamos para trabalhar e estudar e estávamos inteiros no que estávamos fazendo. A atenção estava na aula ou nos colegas e interagíamos coerentemente, sem perguntas desconexas ou repetidas pela desatenção.

O trabalho rendia, porque a atenção estava voltada para ele e eventualmente quando tínhamos que esperar algum serviço chegar, aproveitávamos o ócio para descansar, falar com colegas, pensar, sonhar acordado ou até mesmo para ler algumas linhas de um livro.

Os professores não ficavam preocupados em ver despistadamente seus celulares em cima da mesa. E nem os alunos deixavam de prestar atenção às aulas e o aprendizado era, sem dúvida, de melhor qualidade.

Mas, o pior disso tudo é que não há atenção que se baste para se dividir entre duas tarefas e o que acontece é que as informações chegam sempre fragmentadas para a pessoa. E a pessoa acaba por não estar inteira em nada.

Por que ficar teclando com amigos que estão ausentes ao invés de falarem com os que estão presentes? E assim sempre falando com quem está ausente e nunca com quem está presente?

Fico pensando por que a ausência é sempre mais importante do que a presença.

E ainda nem estou falando do quanto é deselegante, para não dizer mal educado, o uso inapropriado do celular quando se está assistindo uma palestra, uma aula ou quando em uma roda de amigos. Em cinemas... aquela luz forte meio à escuridão, incomodando a todos os que estão assistindo ao filme. E sentado à mesa na hora do almoço? Poxa!

Então vão algumas dicas para usar educadamente o celular:

1. Não use o celular enquanto estiver assistindo uma palestra ou uma aula, porque todo mundo observa e você será visto como alguém desinteressado que deveria estar em outro lugar e não ali. Além de você ser desrespeitoso com quem está falando.

2. Se você vai ao cinema, aprecie o filme. Deixe para ver suas mensagens quando o filme terminar. No escuro a claridade provocada pelo celular multiplica-se e incomoda muita gente. A luz é tão forte que às vezes é usada em shows como pisca-piscas para reverenciar alguma celebridade.

3. Jamais leve o celular para a mesa de refeições. Aproveite este momento para conversar com a família, contar casos e rir com todos. Sem contar que antes de sentarmos à mesa lavamos as mãos e o celular é sujo.

4. Se precisar atender ao celular, primeiro peça desculpas para a pessoa que está com você, em seguida peça licença e retire-se para um lugar mais reservado. E fale baixo! Ninguém tem interesse em ouvir sua conversa.

5. Lembre-se que seu celular não é parte do seu corpo, você pode muito bem usá-lo somente quando estiver sozinho.

6. Tenha bom senso e não espere placas de “proibido usar o celular” para saber que deve desligá-lo ou colocá-lo no silencioso.

Susana Alamy
psicologiahospitalar.net.br

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domingo, 9 de outubro de 2016

10 dicas para dar uma má notícia

10 DICAS PARA DAR UMA MÁ NOTÍCIA


1. Considere que na sua frente está uma pessoa que tem sentimentos e emoções.
2. Lembre-se que uma má notícia provoca impacto e sentimentos internos que geram sofrimento.
3. Observe o que a pessoa está preparada para ouvir e até onde ela quer ouvir. Seja complacente.
4. Inicie a conversa demonstrando empatia e respeito.
5. Faça pausas em suas falas para que o outro tenha tempo de processar o que está ouvindo.
6. Não imponha a maneira que você espera que a pessoa reaja.
7. Não provoque sofrimentos desnecessários ao dar a má notícia.
8. Esteja consciente dos seus próprios limites, elaborando-os, para que não se perca no que deve e na forma com que deve falar.
9. Nunca dê falsas esperanças.
10. Dê suporte emocional a quem recebe a má notícia.

Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar,
Psicoterapeuta, Docente Livre
psicologiahospitalar.net.br

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