Carta aos psicólogos hospitalares
Queridos psicólogos hospitalares!!
Boa noite!
Estamos vivendo um momento “suis generis” de pandemia pelo coronavírus. Pois nunca antes passamos por uma
situação destas. Muitos psicólogos hospitalares estão se sentindo despreparados
e sobrecarregados com a carga emocional que está sendo depositada em cima deles,
o que não é sem razão. Afinal, o profissional referência para saúde mental
dentro dos hospitais, e demais locais em que atende, é o psicólogo, para o qual
recorrem, sem distinção, o paciente, o familiar, o médico, o fisioterapeuta, a
assistente social, e toda a equipe de apoio.
Qual de nós nunca soube que estaríamos ali para acolher e
suportar toda a carga emocional, sem ter para onde correr ali dentro? Qual de
nós já não chorou sozinho se questionando se fez realmente o que precisaria ser
feito? Qual de nós nunca se sentiu
vulnerável e incapaz por estar em contato com tanto sofrimento? Qual de nós
nunca se sentiu sozinho?
Gostaria que vocês fizessem uma reflexão do caminho que
trilharam até aqui. No quanto de pacientes leves, moderados e graves já
atenderam, o quanto investiram na sua formação, no quanto já ajudaram os
pacientes, familiares e equipes a passarem por adversidades e sofrimentos
intensos.
Gostaria que se voltassem para si mesmos e fizessem uma
leitura do quanto a ansiedade de hoje tem a ver com a vontade de ajudar. Do
quanto a infraestrutura dos locais de trabalho não comporta a pandemia que
vivemos. Do quanto os recursos físicos são escassos. Do quanto o medo toma
conta de todos e o descaso é só seu contraponto.
Gostaria que fechassem os olhos um só minuto e sentissem o
quanto se dedicam e dão o melhor de si mesmos em cada atendimento. O quanto ponderam
entre razão e emoção para encontrarem um equilíbrio, que muitas vezes se esvai
naquele pranto de quem se identificou com aquele sujeito que sofria.
Gostaria que vocês aquietassem a alma, respirassem fundo,
estufassem o peito e falassem racionalmente: eu dou conta!!! E sigam em
frente!! O mundo precisa de nós.
Grande abraço,
Força e Paz!!
Susana Alamy
Psicóloga clínica e hospitalar
CRP 04/6956