O QUE SENTIMOS QUANDO O DIAGNÓSTICO É DE UMA DOENÇA TERMINAL
Receber o diagnóstico de uma doença terminal é desesperador.
Perdemos o chão e não conseguimos pensar em nada além da finitude que se
aproxima.
O primeiro impacto é que não há mais nada a se fazer além de
esperar o dia fatídico. E começamos a contar os dias tentando prever de qual
deles não passaremos.
Todo e qualquer evento torna-se uma grande interrogação e não mais
assumimos, para nós mesmos, que estaremos lá.
Pensar em cremação ou enterro é no mínimo perverso demais. Decisão
que já deveria ter sido tomada quando saudável. Pensar nisso agora é
arrepiante. E quem estará lá? Minha família, meus amigos e outras pessoas que
me querem bem. Por favor, não chorem, porque já choro agora o suficiente.
Terei tempo de fazer tudo o que ainda quero? Nem sei mais se
quero. Tudo ficou meio sem sentido. Meu bem maior e mais precioso é sem dúvida
alguma minha vida com saúde. Mas, a saúde perdi.
Talvez agora eu só consiga pensar em não sofrer, já sofrendo pela
sua possibilidade, que diante de uma doença terminal é quase uma certeza. Vem à
minha mente Ivan Ilitch, de Tóstoi, e todo seu sofrimento. Não. Isso não quero.
Mas isto não é uma opção, é um caminho natural da doença que talvez possa ser amenizado
pelos analgésicos, pelo conforto espiritual e pelo acolhimento emocional.
Meu Deus! O que está acontecendo? Que caminho é este que não
reconheço como meu e que tanto me apavora? Conseguirei chegar àquela fase de
aceitação que li tantas vezes em Elisabeth Kübler-Ross? Não sei. Talvez nem dê
tempo. E tenho pressa.
Segurem minha mão, deixem-me sentir-me segura, porque de medos meu
coração está cheio.
A ideia do meu passamento me atormenta, em momento algum me vi
como mortal. E quantos planos terei que deixar para trás? Eles já estão ficando
para trás, porque agora sou toda mortal. Morrendo dia-a-dia de uma doença que
me consome.
Preciso me acalmar. Preciso deixar fluir o resto de vida que ainda
existe em mim. Aproveitar a alegria de estar aqui e de ser com os meus.
Dormir não é morrer. Mas, permaneço acordada. Como entender isso
se o fim se aproxima e temo que a morte me chegue sorrateira se não a vigiar?
Uma agonia me desespera. Preciso sintonizar meu racional com meus
sentimentos e chegar em um ego mais confortável de conviver até que chegue o
fim, o meu fim.
Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar
psicologiahospitalar.net.br
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