ORTOTANÁSIA:
UMA DECISÃO DIFÍCIL
Paciente com câncer de estômago, inoperável, invasivo, reagiu
muito mal à quimioterapia, tendo passado muito mal com diarreia, vômitos,
desidratação, mal-estar generalizado, perda de apetite, perda de peso, apesar
da alimentação através da sonda. Assim permanecendo por duas semanas após a
ingestão de um comprimido de quimioterapia.
Duas idas ao hospital para tomar soro e medicamentos venosos,
tendo sofrido muito na última ida quando na introdução de agulhas para o soro e
medicamentos e coleta do sangue no pescoço, além da eterna espera por ser
chamada.
Ponderados os resultados da tentativa de tratamento curativo e
seus efeitos de estresse, optei por tratá-la em casa, através da hidratação e
medicamentos via sonda.
Sem o estresse de idas e vindas ao hospital os cuidados paliativos
continuam, aqueles que já vêm sendo dispensados desde o diagnóstico da doença e
que visam a qualidade de vida da paciente.
E o que é qualidade de vida? Especificamente neste caso é estar em
casa, sem dor, sem mal-estar, longe de estresse, junto das pessoas que ama e
que a amam.
Em um caso de tumor tão agressivo e sem prognóstico de cura,
decidi por deixar a doença seguir seu curso normal, o que é chamado de
ortotanásia. O que não quer dizer que todo e qualquer tipo de tratamento será
abandonado. Muito pelo contrário todo e qualquer sintoma deverá ser tratado.
Assim, infecções serão devidamente tratadas, dores serão medicadas, mal-estar
revertido.
Deixar a doença seguir seu curso natural, ortotanásia, não quer
dizer abandonar o paciente à sua própria sorte. Quer dizer apenas que não há o
que fazer em termos de tratamento curativo e que qualquer tratamento que seja
imposto na vã tentativa de “salvar” o paciente será sentido como distanásia.
Bem sabemos que a distanásia é incompatível com a qualidade de vida.
Tomar a decisão pela ortotanásia não é nada fácil, temos uma
concepção curativa das doenças e não fazer nada para curá-las nos deixa bastante
desconfortáveis, pois é como se cruzássemos os braços e não fizéssemos nada.
Temos que repassar nossos conceitos, reavaliar valores, colocar-nos no lugar do
outro e entender que todo e qualquer sofrimento desnecessário para manter a
vida é um ato de desamor.
Assim, a ortotanásia que é deixar a doença seguir seu curso
natural apoiada pelos cuidados paliativos, sem dor e sem mal-estar, sendo o
paciente respeitado como um todo provido de sentimentos.
Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar
psicologiahospitalar.net.br
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