CTI - UMA EXPERIÊNCIA RUIM ©
Um mal-estar súbito. Calafrios,
fraqueza muscular, tremores difusos, sem controle. Deixa-se de ser dono de si
mesmo neste instante, quando o corpo diverge do que se pode querer com a razão
e o coração. Quando o corpo não obedece mais e se desvia do padrão de
normalidade a que se está acostumado.
Vem a internação. Um hospital - da
melhor qualidade, escolhido a dedo pelos familiares - onde se deve permanecer
até que o médico dê a ordem da alta. Mas, é um lugar frio, impessoal, sem
cores, sem quadros nas paredes, sem vida (sem vida para salvar vidas, não se
compreende muito bem).
No apartamento ainda os
familiares, os pertences pessoais, a vontade sendo satisfeita na medida do
possível e dentro das ordens médicas, as visitas e os telefonemas. Ainda se
ouve risos, vozes, conversas.
Instabilidade no quadro clínico,
completa perda de poder sobre o corpo e sobre a vontade. Respostas não
esperadas do corpo, do orgânico, da hemodinâmica. Toda a parafernália à
disposição: tubos, oxigênio, soro, e até uma campainha para chamar a
enfermagem.
Não é o bastante. Carece-se de uma
atenção mais intensiva. Transferência para o Centro de Tratamento Intensivo -
CTI. Passa-se a ter uma atenção mais dolorida neste momento. Dói estar só. Dói
estar longe da família e dos amigos. Dói estar sem referência, sem nenhum
pertence que poderia identificá-lo. Dói para o paciente e para sua família.
O paciente lá dentro,
completamente protegido dos vírus, das bactérias, dos vermes, das contaminações
diversas. Protegido, também, do carinho, do amor. Colocado em uma redoma fria e
monótona, distante do mundo caloroso dos contatos humanos.
A família do lado de fora, a
chorar (sem saber que o paciente lá dentro também chora e chora sozinho)
imaginando a dor do doente e sentindo a sua própria dor.
São dores. Dores surdas, que ecoam
na alma e se expressam nas lágrimas, nos batimentos cardíacos, na pulsação da
tristeza. Que se fazem notar nos olhos caídos, no olhar baixo, na redução do
tônus muscular.
Não. Não pode ser aquele lugar um
lugar apropriado. Não pode ser aquele lugar um lugar que restaura a vontade de
viver. Talvez seja apenas um lugar que sirva para aproximar a pessoa doente de
Deus, porque só Ele pode permanecer ali, junto e de mãos dadas todo o tempo, a
velar em silêncio o sono induzido de quem sofre.
Susana Alamy
Psicóloga
Clínica e Hospitalar
psicologiahospitalar.net.br
Copyright © Susana Alamy. Todos
os direitos reservados. Este texto é protegido por leis de Direitos Autorais
(copyright) e Tratados Internacionais. É permitida
sua reprodução desde que citada a fonte: Alamy, Susana: Ensaios de Psicologia
Hospitalar: a ausculta da alma. BH, s.ed., 2007.
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Texto maravilhoso e verdadeiro!! São dores absurdas para quem está dentro e quem está fora..que possamos ser portadores de paz, de aceitação e bem estar dessa aproximação com Deus, no âmbito da psicologia. Que saibamos cada vez mais o valor da empatia e congruência em todos os momentos. Parabéns pelo trabalho brilhante Professora querida.
ResponderExcluirObrigada, querida Larissa! Fico contente que tenha gostado do texto. Minha pretensão é sempre ajudar as pessoas, sejam elas os pacientes, os familiares ou os profissionais que lidam com eles. Beijo grande.
ResponderExcluirAmei seu texto. As situações vivenciadas pelo paciente na solidão, incertezas e as dores da alma, dentro de uma UTI; repercutem também no âmbito intra hospitalar e familiar. As marcas psíquicas são instaladas e precisam do atendimento psicológico tanto para pacientes como para familiares em questão.
ResponderExcluirFiz especialização em Psicologia Hospitalar e tenho o seu livro de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma.
Essa área da Psicologia é maravilhosa. Você é surpreendente e maravilhosa em seus escritos e nas sábias pontuações inerentes às questões do adoecer. Parabéns, querida! Abraços
Parabéns!!
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