GERAÇÃO PRINCESA
As meninas hoje em dia já nascem em um palácio preparado para
receber suas princesas, sendo toda a decoração do quarto da bebê, temática. Em
cada canto alguma coisa que lembre que ali reina uma princesa. A princesinha do
papai e da mamãe, da vovó e do vovô e de alguma maneira o será de todos que
convivem ali.
Começam a crescer e a primeira festinha de aniversário também é
temática, de princesa: Anna e Elza, Sofia, e as mais antigas, Rapunzel, Bela
Adormecida, Cinderela, Branca de Neve.
Os preparativos começam cedo. Ir ao salão de beleza e fazer o
penteado da princesa, pintar as unhas e passar batom. Tomar banho e vestir-se
como princesa. E não importa se faz frio ou calor, a roupa será aquela, daquela
princesa. E magicamente a criança se transformará em sua personagem favorita,
ou melhor, na personagem favorita dos pais.
Partiu festa! Todas as meninas de princesas, vivendo um conto de
fadas, com o qual começam a se identificar. Os meninos? Avacalhados: de short,
camiseta e tênis. Tênis que escorregam pelo chão, como patins. Não são
príncipes, não são heróis, são eles mesmos a correr pelo salão sem se
preocuparem em fazer as poses de princesas que ficarão registradas em vídeos e
fotos. São crianças se divertindo: podem sujar a roupa, tirar os tênis, pular,
correr até ficarem suados, despenteados e mal ajambrados. Verdadeiros plebeus.
As meninas, ao contrário, requerem vigilância constante, afinal
não podem se descompor e devem se comportar como princesas: lindas, intactas,
perfeitas.
Em pleno século XXI os contos de fadas retomando a força do século
XVIII. Ensinando que meninas tem que ser princesas. E até camufladamente
mostrando que devem esperar pelo príncipe, mesmo que ele se mostre como um
plebeu nas festas.
A identificação com a personagem frágil, doce e submissa de
princesa só pode ser repensada se a princesa for a Fiona do Sherek. Mas, qual
pai, forte e dominador, provedor da família, macho alfa, irá querer uma filha
Fiona, independente, forte e cheia de autoestima, que fala palavrões e solta
puns? Esta não é a princesinha que fica agarrada ao papai e nem à mamãe. Não é
a princesa dos contos de fadas.
Repensar estes valores ou, pelo menos, ponderá-los e
equilibrá-los, pode salvar as princesinhas de hoje de um futuro onde se
identificarão mais com a cinderela do que com a Fiona.
Essas meninas crescerão fazendo a distinção de gênero pelos
brinquedos, pelas vestimentas e pelo comportamento, privadas de ganhar o mundo
“batendo um bolão” ou deslizando com seus tênis pelos corredores dos shoppings.
Serão amanhã as donas de casa a cuidarem de seus castelos e de
suas princesas, reclamando de seus sapos. Poderão até ganhar o mercado de
trabalho, se tiverem perdido os trejeitos de sexo frágil, de aparência
estranha, sem ter seu próprio estilo, e de indubitável imaturidade emocional.
Sentir-se a princesa todo o tempo, não a ajudará a ir além de seu
mundinho, de “sua” fantasia tão real em casa e reforçada todo o tempo por papai
e mamãe.
Devemos observar, entender e compreender o significado imbuído na
figura de uma princesa e questionarmos se desta maneira não reforçamos que os
homens são mais viris, mais fortes e, portanto, mais poderosos.
A diferença de gênero não pode e não deve ter a medida das roupas
de uma princesa e uma “princesinha do papai” não deve passar de uma metáfora
para demonstrar a ligação edipiana entre eles.
Nunca se lutou tanto e nunca se conquistou tanto o respeito por
tudo o que há entre dois pólos (homens e mulheres), na insana tentativa de
reconhecê-los apenas como pessoas, sem que a medida da saia ou do decote da
blusa sejam responsáveis pelos assédios e crimes sexuais.
Princesinhas 24 horas são personagens alienantes, onde a mulher
poderá se perder em um machismo velado e difícil de ser reconhecer.
Vistamos nossas princesas também de Martas (da seleção brasileira
de futebol), de Angelinas Jolie (defensora de causas humanitárias), de
Margareths Thatcher (primeira ministra da Inglaterra), de Svetlanas Jevich
(escritora e jornalista bielorrussa), de Joanas (trabalhadoras rurais braçais),
de Lauras (engenheiras civis especializadas em autovias), tantas outras, e por
fim também de Fionas, para compreenderem que a primeira identificação deve
acontecer com os pais e que as demais não passam de pessoas comuns que
idealizamos, porque precisamos de heróis e nos refugiar em mundos de “faz de
contas”.
“O que você pode fazer pela igualdade de gênero
da infância? Conheça a campanha #desafiodaigualdade em www.desafiodaigualdade.org”
Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar
psicologiahospitalar.net.br
Copyright © Susana Alamy. Todos os direitos reservados. Este texto é protegido por leis de
Direitos Autorais (copyright) e
Tratados Internacionais. É permitida sua reprodução
desde que citada a fonte.
Se
gostou curta abaixo e deixe seu comentário.
Cadastre
seu e-mail, logo acima do lado direito, para receber minhas publicações.
Simplesmente brilhante! Texto sensacional para refletir.
ResponderExcluirPerfeito Susa! Parabéns!
ResponderExcluirTema extremamente pertinente, abordado de forma brilhante!
ResponderExcluirTexto maravilhoso,adorei!
ResponderExcluirSensacional!
ResponderExcluirAmei!
Infelizmente as pessoas não vêm o feminismo como um ato de igualdade entre os gêneros.. e as mulheres que são "pra casar" são as "belas, recatadas e do lar".. as que não confrontam, as que reprimem suas vontades, desejos e "servem" ao marido e família, colocadas como sexo frágil.. desde criança.
É cultural, infelizmente, e ainda há muito o que mudar.
Muito bom! É preciso empoderar as mulheres, dando a elas o que é de direito. Igualdade, respeito a sua dignidade e reconhecimento de sua força e capacidade criativa e transformadora. Nos homens, e até algumas mulheres conservadoras, precisamos entender que as princesas do século XXI já não podem mais serem subjugadas ao domínio masculino, porque elas também podem e sabem decidir e governar, construindo a própria história.
ResponderExcluirBom dia! Olha sinceramente, essa é boa já começamos criando errado sem contar que a princesinha e o príncipe vão se transformar em verdadeiros monstrinhos com toda essa bajulação.
ResponderExcluir