sexta-feira, 21 de abril de 2017

Asfixia e Baleia Azul

ASFIXIA E BALEIA AZUL

O que fazer por nossos adolescentes?


Asfixia e baleia azul são dois “jogos” que viralizaram na internet nos últimos meses, levando adolescentes à morte.

No jogo da asfixia o adolescente provoca a interrupção da oxigenação no cérebro através do estrangulamento (apertando seu próprio pescoço) ou hipocapnia (através da respiração profunda ou rápida). Assim procedendo acredita que alcançará um estado de consciência alterado que provoca sensações divertidas de desmaio ou experiência quase-morte.

No jogo da baleia azul o adolescente deverá cumprir 50 desafios, sendo que o último deles é sua própria morte. Uma vez iniciado o jogo o adolescente não poderá sair dele. São os desafios, segundo Jornal da Ciência (1):

1. Com uma navalha, escreva a sigla “F57” na palma da mão e em seguida envie uma foto para o curador.
2. Assista filmes de terror e psicodélicos às 4:20 da manhã, mas não pode ser qualquer filme, o curador indicará, lembrando que ele fará perguntas sobre as cenas, pois ele quer saber se você realmente assistiu.
3. Corte seu braço com uma lâmina, “3 cortes grandes”, mas é preciso ser sobre as veias e o corte não precisa ser muito profundo, envie a foto para o curador, e seguirá para o próximo nível.
4. Desenhe uma baleia azul e envie a foto para o curador.
5. Se você está pronto para se tornar uma baleia, escreva “SIM” em sua perna. Se não, corte-se muitas vezes. “Castigue-se”.
6. Tarefa em código.
7. Escreva “F40” em sua mão. Envie uma foto ao curador.
8. Em sua rede social escreva “#l_am_whale” no seu status do VKontakte (Rede Social Russa) ou no Facebook. O texto significa “Eu sou uma Baleia”.
9. Ele te dará uma missão baseada no seu maior medo, ele quer fazer você superar esse medo.
10. Acorde às 4:20 da manhã e suba em um telhado, quanto mais alto melhor.
11. Desenhe uma foto de uma baleia azul na mão com uma navalha e envie a foto para o curador.
12. Assista filmes de terror e psicodélicos todas as tardes.
13. Ouça as músicas que os “curadores” te enviarem.
14. Corte seu lábio.
15. Fure sua mão com uma agulha muitas vezes.
16. Faça algo doloroso, “machuque-se”, fique doente.
17. Procure o telhado mais alto e fique na borda por algum tempo.
18. Suba em uma ponte e sente-se na borda por algum tempo.
19. Suba em um guindaste ou pelo menos tente.
20. No próximo passo o curador irá verificar se você é de confiança.
21. Encontre outra baleia azul, “outro participante”, o curador te indicará.
22. Pendure-se novamente em um telhado alto e apoie-se na borda com as pernas penduradas.
23. Outra tarefa em código.
24. Tarefa secreta.
25. Reunião com uma baleia azul que o curador indicará.
26. O curador indicará a data da sua morte e você aceitará.
27. Acorde às 4:20 e vá a uma estrada de ferro.
28. Não fale com ninguém o dia todo.
29. Fazer um voto de que você é realmente uma Baleia Azul.
30-49. Todos os dias você deve acordar às 4:20 da manhã, assistir a vídeos de terror, ouvir música que “eles” lhe enviarem, fazer 1 corte em seu corpo por dia, falar “com uma baleia”. Durante o intervalo dos desafios entre 30 e 49.

50. Tire sua própria vida.

Diante da situação temerosa destes “jogos” é importante ressaltar a necessidade de avaliar com cautela o que leva os adolescentes a este extremo.

Não são os jogos em si os responsáveis pelo suicídio, mas a ponta do iceberg. Temos que considerar a estrutura do adolescente, vulnerável, frágil, seu sentimento de não pertencimento, de ser incompreendido e com tendência à depressão.

Tratar o assunto de maneira simplista é fechar os olhos para um grande problema: o da taxa crescente de suicídios entre crianças e adolescentes. Segundo a Organização Mundial de Saúde (2012) o suicídio é a segunda causa de mortes entre adolescentes de 15 a 29 anos no mundo, principalmente em países de baixa e média rendas. E as tentativas ainda muito mais numerosas. (2)

A adolescência é uma fase de transição da infância para a maturidade, trazendo consigo angústias e inseguranças, bem como a necessidade de aprovação e aceitação pelos grupos nos quais os adolescentes estão inseridos.

É o primeiro momento de grandes inseguranças, quando seu corpo físico começa a sofrer transformações e não se sabe o que lhe acontecerá. Ser aceito é fundamental para que se sinta seguro e amado, mesmo que sua autoestima esteja baixa.

O que podemos fazer por estes adolescentes tão vulneráveis?

Escutar o adolescente além do que ele está falando, observando suas reações frente ao mundo, seus sentimentos e seu comportamento. Possibilitar-lhe se expressar sem julgá-lo e/ou condená-lo, oferecendo-lhe um espaço emocional capaz de ajudá-lo a superar seus medos.

Aos pais a tarefa de ampará-los emocionalmente, possibilitando a eles um ambiente onde possa ser ele mesmo com todo o antagonismo que possa carregar em si, mas com limite e respeito, com liberdade, mas sem libertinagem. O adolescente sem limite entenderá inconscientemente que não se importam com ele, por isso não o limitam em nada. Deverão monitorar a internet, verem as redes sociais dos filhos, observarem de perto seu comportamento.

Às escolas um olhar mais atendo às mudanças de comportamento de seus alunos, seja na passividade ou na agressividade, nas vestimentas de mangas cumpridas inadequadas ao clima. Abrir um espaço de discussão e aprendizado sobre o suicídio, mostrando quando a ajuda profissional é fundamental.

É muito importante observarem os sinais emocionais que estes adolescentes emitem antes de chegarem ao extremo de suicidarem-se. São os mais comuns: isolamento, desatenção, desinteresse, apatia ou agressividade, tristeza, sentimento de desaprovação de suas condutas, medos, falta de sentido da vida. Bem como observar os sinais físicos deixados pelo cumprimento dos desafios do jogo: ferimentos nas palmas das mãos, nos braços e nos lábios, no corpo e modo geral. Comportamentos estranhos de sair de casa de madrugada, de assistir filmes que provocam medo, silêncio prolongado.

Uma maneira de se obter ajuda é entrar em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida) através do número 141. E outra é a psicoterapia, que poderá ajudar o adolescente a compreender o que se passa com ele, possibilitando-lhe maior autoconhecimento e automaticamente uma maior autonomia sobre seus sentimentos e comportamentos.  A terapia auxilia também os pais e poderá ser procurada a qualquer momento.

Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar, 
Psicoterapeuta, Docente Livre
psicologiahospitalar.net.br


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E-mail para contato: alamysusana@gmail.com

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