ASFIXIA E BALEIA AZUL
O que fazer por nossos adolescentes?
Asfixia e baleia azul são dois “jogos” que
viralizaram na internet nos últimos meses, levando adolescentes à morte.
No jogo da asfixia
o adolescente provoca a interrupção da oxigenação no cérebro através do
estrangulamento (apertando seu próprio pescoço) ou hipocapnia (através da
respiração profunda ou rápida). Assim procedendo acredita que alcançará um estado
de consciência alterado que provoca sensações divertidas de desmaio ou
experiência quase-morte.
No jogo da baleia
azul o adolescente deverá cumprir 50 desafios, sendo que o último deles
é sua própria morte. Uma vez iniciado o jogo o adolescente não poderá sair
dele. São os desafios, segundo Jornal da Ciência (1):
1. Com uma navalha, escreva a sigla “F57” na palma
da mão e em seguida envie uma foto para o curador.
2. Assista filmes de terror e psicodélicos às 4:20
da manhã, mas não pode ser qualquer filme, o curador indicará, lembrando que
ele fará perguntas sobre as cenas, pois ele quer saber se você realmente
assistiu.
3. Corte seu braço com uma lâmina, “3 cortes grandes”,
mas é preciso ser sobre as veias e o corte não precisa ser muito profundo,
envie a foto para o curador, e seguirá para o próximo nível.
4. Desenhe uma baleia azul e envie a foto para o
curador.
5. Se você está pronto para se tornar uma baleia,
escreva “SIM” em sua perna. Se não, corte-se muitas vezes. “Castigue-se”.
6. Tarefa em código.
7. Escreva “F40” em sua mão. Envie uma foto ao
curador.
8. Em sua rede social escreva “#l_am_whale” no seu
status do VKontakte (Rede Social Russa) ou no Facebook. O texto significa “Eu
sou uma Baleia”.
9. Ele te dará uma missão baseada no seu maior medo,
ele quer fazer você superar esse medo.
10. Acorde às 4:20 da manhã e suba em um telhado,
quanto mais alto melhor.
11. Desenhe uma foto de uma baleia azul na mão com
uma navalha e envie a foto para o curador.
12. Assista filmes de terror e psicodélicos todas as
tardes.
13. Ouça as músicas que os “curadores” te enviarem.
14. Corte seu lábio.
15. Fure sua mão com uma agulha muitas vezes.
16. Faça algo doloroso, “machuque-se”, fique doente.
17. Procure o telhado mais alto e fique na borda por
algum tempo.
18. Suba em uma ponte e sente-se na borda por algum
tempo.
19. Suba em um guindaste ou pelo menos tente.
20. No próximo passo o curador irá verificar se você
é de confiança.
21. Encontre outra baleia azul, “outro participante”,
o curador te indicará.
22. Pendure-se novamente em um telhado alto e
apoie-se na borda com as pernas penduradas.
23. Outra tarefa em código.
24. Tarefa secreta.
25. Reunião com uma baleia azul que o curador
indicará.
26. O curador indicará a data da sua morte e você
aceitará.
27. Acorde às 4:20 e vá a uma estrada de ferro.
28. Não fale com ninguém o dia todo.
29. Fazer um voto de que você é realmente uma Baleia
Azul.
30-49. Todos os dias você deve acordar às 4:20 da
manhã, assistir a vídeos de terror, ouvir música que “eles” lhe enviarem, fazer
1 corte em seu corpo por dia, falar “com uma baleia”. Durante o intervalo dos
desafios entre 30 e 49.
50. Tire sua própria vida.
Diante da situação temerosa destes “jogos” é
importante ressaltar a necessidade de avaliar com cautela o que leva os
adolescentes a este extremo.
Não são os jogos em si os responsáveis pelo suicídio,
mas a ponta do iceberg. Temos que considerar a estrutura do adolescente,
vulnerável, frágil, seu sentimento de não pertencimento, de ser incompreendido
e com tendência à depressão.
Tratar o assunto de maneira simplista é fechar os
olhos para um grande problema: o da taxa crescente de suicídios entre crianças
e adolescentes. Segundo a Organização Mundial de Saúde (2012) o suicídio é a
segunda causa de mortes entre adolescentes de 15 a 29 anos no mundo, principalmente
em países de baixa e média rendas. E as tentativas ainda muito mais numerosas.
(2)
A adolescência é uma fase de transição da infância
para a maturidade, trazendo consigo angústias e inseguranças, bem como a necessidade
de aprovação e aceitação pelos grupos nos quais os adolescentes estão inseridos.
É o primeiro momento de grandes inseguranças, quando
seu corpo físico começa a sofrer transformações e não se sabe o que lhe
acontecerá. Ser aceito é fundamental para que se sinta seguro e amado, mesmo
que sua autoestima esteja baixa.
O que podemos fazer por estes adolescentes tão
vulneráveis?
Escutar o adolescente além do que ele está falando,
observando suas reações frente ao mundo, seus sentimentos e seu comportamento.
Possibilitar-lhe se expressar sem julgá-lo e/ou condená-lo, oferecendo-lhe um
espaço emocional capaz de ajudá-lo a superar seus medos.
Aos pais a tarefa de ampará-los emocionalmente, possibilitando
a eles um ambiente onde possa ser ele mesmo com todo o antagonismo que possa
carregar em si, mas com limite e respeito, com liberdade, mas sem libertinagem.
O adolescente sem limite entenderá inconscientemente que não se importam com
ele, por isso não o limitam em nada. Deverão monitorar a internet, verem as
redes sociais dos filhos, observarem de perto seu comportamento.
Às escolas um olhar mais atendo às mudanças de comportamento
de seus alunos, seja na passividade ou na agressividade, nas vestimentas de
mangas cumpridas inadequadas ao clima. Abrir um espaço de discussão e
aprendizado sobre o suicídio, mostrando quando a ajuda profissional é
fundamental.
É muito importante observarem os sinais emocionais que
estes adolescentes emitem antes de chegarem ao extremo de suicidarem-se. São os
mais comuns: isolamento, desatenção, desinteresse, apatia ou agressividade,
tristeza, sentimento de desaprovação de suas condutas, medos, falta de sentido
da vida. Bem como observar os sinais físicos deixados pelo cumprimento dos
desafios do jogo: ferimentos nas palmas das mãos, nos braços e nos lábios, no
corpo e modo geral. Comportamentos estranhos de sair de casa de madrugada, de
assistir filmes que provocam medo, silêncio prolongado.
Uma maneira de se obter ajuda é entrar em contato
com o CVV (Centro de Valorização da Vida) através do número 141. E outra é a
psicoterapia, que poderá ajudar o adolescente a compreender o que se passa com
ele, possibilitando-lhe maior autoconhecimento e automaticamente uma maior
autonomia sobre seus sentimentos e comportamentos. A terapia auxilia também os pais e poderá ser
procurada a qualquer momento.
Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar,
Psicoterapeuta, Docente Livre
Psicoterapeuta, Docente Livre
psicologiahospitalar.net.br
(1) http://www.jornalciencia.com/veja-quais-sao-os-50-desafios-de-baleia-azul-o-jogo-do-suicidio/.
Acesso em 20/04/2017.
(2) https://nacoesunidas.org/oms-suicidio-e-responsavel-por-uma-morte-a-cada-40-segundos-no-mundo/.
Acesso em 20/04/2017.
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