quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Geração Princesa

GERAÇÃO PRINCESA


As meninas hoje em dia já nascem em um palácio preparado para receber suas princesas, sendo toda a decoração do quarto da bebê, temática. Em cada canto alguma coisa que lembre que ali reina uma princesa. A princesinha do papai e da mamãe, da vovó e do vovô e de alguma maneira o será de todos que convivem ali.

Começam a crescer e a primeira festinha de aniversário também é temática, de princesa: Anna e Elza, Sofia, e as mais antigas, Rapunzel, Bela Adormecida, Cinderela, Branca de Neve.

Os preparativos começam cedo. Ir ao salão de beleza e fazer o penteado da princesa, pintar as unhas e passar batom. Tomar banho e vestir-se como princesa. E não importa se faz frio ou calor, a roupa será aquela, daquela princesa. E magicamente a criança se transformará em sua personagem favorita, ou melhor, na personagem favorita dos pais.

Partiu festa! Todas as meninas de princesas, vivendo um conto de fadas, com o qual começam a se identificar. Os meninos? Avacalhados: de short, camiseta e tênis. Tênis que escorregam pelo chão, como patins. Não são príncipes, não são heróis, são eles mesmos a correr pelo salão sem se preocuparem em fazer as poses de princesas que ficarão registradas em vídeos e fotos. São crianças se divertindo: podem sujar a roupa, tirar os tênis, pular, correr até ficarem suados, despenteados e mal ajambrados. Verdadeiros plebeus.

As meninas, ao contrário, requerem vigilância constante, afinal não podem se descompor e devem se comportar como princesas: lindas, intactas, perfeitas.

Em pleno século XXI os contos de fadas retomando a força do século XVIII. Ensinando que meninas tem que ser princesas. E até camufladamente mostrando que devem esperar pelo príncipe, mesmo que ele se mostre como um plebeu nas festas.

A identificação com a personagem frágil, doce e submissa de princesa só pode ser repensada se a princesa for a Fiona do Sherek. Mas, qual pai, forte e dominador, provedor da família, macho alfa, irá querer uma filha Fiona, independente, forte e cheia de autoestima, que fala palavrões e solta puns? Esta não é a princesinha que fica agarrada ao papai e nem à mamãe. Não é a princesa dos contos de fadas.

Repensar estes valores ou, pelo menos, ponderá-los e equilibrá-los, pode salvar as princesinhas de hoje de um futuro onde se identificarão mais com a cinderela do que com a Fiona.

Essas meninas crescerão fazendo a distinção de gênero pelos brinquedos, pelas vestimentas e pelo comportamento, privadas de ganhar o mundo “batendo um bolão” ou deslizando com seus tênis pelos corredores dos shoppings.

Serão amanhã as donas de casa a cuidarem de seus castelos e de suas princesas, reclamando de seus sapos. Poderão até ganhar o mercado de trabalho, se tiverem perdido os trejeitos de sexo frágil, de aparência estranha, sem ter seu próprio estilo, e de indubitável imaturidade emocional.

Sentir-se a princesa todo o tempo, não a ajudará a ir além de seu mundinho, de “sua” fantasia tão real em casa e reforçada todo o tempo por papai e mamãe.

Devemos observar, entender e compreender o significado imbuído na figura de uma princesa e questionarmos se desta maneira não reforçamos que os homens são mais viris, mais fortes e, portanto, mais poderosos.

A diferença de gênero não pode e não deve ter a medida das roupas de uma princesa e uma “princesinha do papai” não deve passar de uma metáfora para demonstrar a ligação edipiana entre eles.

Nunca se lutou tanto e nunca se conquistou tanto o respeito por tudo o que há entre dois pólos (homens e mulheres), na insana tentativa de reconhecê-los apenas como pessoas, sem que a medida da saia ou do decote da blusa sejam responsáveis pelos assédios e crimes sexuais.

Princesinhas 24 horas são personagens alienantes, onde a mulher poderá se perder em um machismo velado e difícil de ser reconhecer.

Vistamos nossas princesas também de Martas (da seleção brasileira de futebol), de Angelinas Jolie (defensora de causas humanitárias), de Margareths Thatcher (primeira ministra da Inglaterra), de Svetlanas Jevich (escritora e jornalista bielorrussa), de Joanas (trabalhadoras rurais braçais), de Lauras (engenheiras civis especializadas em autovias), tantas outras, e por fim também de Fionas, para compreenderem que a primeira identificação deve acontecer com os pais e que as demais não passam de pessoas comuns que idealizamos, porque precisamos de heróis e nos refugiar em mundos de “faz de contas”.
                  

Assista ao vídeo “O Desafio da Igualdade”: https://www.youtube.com/watch?v=04u0UHEq2f4
O que você pode fazer pela igualdade de gênero da infância? Conheça a campanha #desafiodaigualdade em www.desafiodaigualdade.org”


Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar
psicologiahospitalar.net.br

Copyright © Susana Alamy. Todos os direitos reservados. Este texto é protegido por leis de Direitos Autorais (copyright) e Tratados Internacionais. É permitida sua reprodução desde que citada a fonte.

E-mail para contato: alamysusana@gmail.com

Se gostou curta abaixo e deixe seu comentário.
Cadastre seu e-mail, logo acima do lado direito, para receber minhas publicações.