segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

ORTOTANÁSIA: UMA DECISÃO DIFÍCIL

ORTOTANÁSIA: UMA DECISÃO DIFÍCIL




Paciente com câncer de estômago, inoperável, invasivo, reagiu muito mal à quimioterapia, tendo passado muito mal com diarreia, vômitos, desidratação, mal-estar generalizado, perda de apetite, perda de peso, apesar da alimentação através da sonda. Assim permanecendo por duas semanas após a ingestão de um comprimido de quimioterapia.

Duas idas ao hospital para tomar soro e medicamentos venosos, tendo sofrido muito na última ida quando na introdução de agulhas para o soro e medicamentos e coleta do sangue no pescoço, além da eterna espera por ser chamada.

Ponderados os resultados da tentativa de tratamento curativo e seus efeitos de estresse, optei por tratá-la em casa, através da hidratação e medicamentos via sonda.

Sem o estresse de idas e vindas ao hospital os cuidados paliativos continuam, aqueles que já vêm sendo dispensados desde o diagnóstico da doença e que visam a qualidade de vida da paciente.

E o que é qualidade de vida? Especificamente neste caso é estar em casa, sem dor, sem mal-estar, longe de estresse, junto das pessoas que ama e que a amam.

Em um caso de tumor tão agressivo e sem prognóstico de cura, decidi por deixar a doença seguir seu curso normal, o que é chamado de ortotanásia. O que não quer dizer que todo e qualquer tipo de tratamento será abandonado. Muito pelo contrário todo e qualquer sintoma deverá ser tratado. Assim, infecções serão devidamente tratadas, dores serão medicadas, mal-estar revertido.

Deixar a doença seguir seu curso natural, ortotanásia, não quer dizer abandonar o paciente à sua própria sorte. Quer dizer apenas que não há o que fazer em termos de tratamento curativo e que qualquer tratamento que seja imposto na vã tentativa de “salvar” o paciente será sentido como distanásia. Bem sabemos que a distanásia é incompatível com a qualidade de vida.

Tomar a decisão pela ortotanásia não é nada fácil, temos uma concepção curativa das doenças e não fazer nada para curá-las nos deixa bastante desconfortáveis, pois é como se cruzássemos os braços e não fizéssemos nada. Temos que repassar nossos conceitos, reavaliar valores, colocar-nos no lugar do outro e entender que todo e qualquer sofrimento desnecessário para manter a vida é um ato de desamor.

Assim, a ortotanásia que é deixar a doença seguir seu curso natural apoiada pelos cuidados paliativos, sem dor e sem mal-estar, sendo o paciente respeitado como um todo provido de sentimentos.

Susana Alamy
Psicóloga Clínica e Hospitalar
psicologiahospitalar.net.br

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